quarta-feira, 30 de dezembro de 2015


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Educação – FACED/PEAD
Keli Denise Goulart Fraga

Infâncias étnico-raciais e O Brincar na infância e na Educação Infantil

               Todos os autores, de uma forma ou outra, contribuíram bastante para a minha aprendizagem. Porém, sem dúvida nenhuma, aqueles que ,com certeza,  me encantaram e me fizeram refletir sobre minhas práticas foram KIRCHOF, Edgar; BONIN, Iara, SILVEIRA, Rosa Hessel em A diferença étnico-racial em livros brasileiros para crianças: análise de três tendências contemporâneas e o vídeo Carambola: O Brincar está na escola.
                Trabalhar os afrodescendentes, sua cultura, origens e sua colaboração para formação da sociedade é fácil, afinal é só ler alguns livros e fazer alguns trabalhos de Artes. Será? Através das leituras constatei que trabalhar sobre as etnias é muito mais do que ler os livros. É preciso saber qual o objetivo daquela obra. Por incrível que pareça nunca tinha visto sobre esta ótica. Planejei a leitura de muitos livros e até realizei atividades interessantes sobre eles. Mas, agora sei que as minhas escolhas não foram conscientes. Entendi que para ser um trabalho envolvente e que dê resultados, não basta apenas falar sobre personagens negros, indígenas ou integrantes dos grupos considerados discriminados. Eu preciso ter um olhar crítico sobre cada obra, examinar qual é a abordagem feita sobre a temática étnico-racial. Não era o que acontecia. Abordava o racismo e os preconceitos de uma forma indireta, quando acontecia algum fato na escola, na mídia ou em alguma  data específica. Percebi que, ao contrário, precisamos discutir sobre estes assuntos durante todo o ano e utilizar a literatura é uma forma eficiente, prazerosa e lúdica para as crianças. Os livros, quando bem escolhidos, fazem com que  os alunos entendam melhor o significado das diferenças e lidem de uma forma descontraída com assuntos tão sérios. Precisamos entender que cada criança é fruto das experiências vivenciadas não somente na escola, mas também na família. Elas trazem para a sala de aula todas as  formas de ver e entender o mundo. A nós, professores, cabe trabalhar as diferenças, mostrar que elas existem, que fazem parte do nosso dia a dia, mas que não precisam ser a razão de desentendimentos, ofenças ou mesmo de “brincadeiras”. Acredito estar mais consciente para realizar bons trabalhos sobre estes temas.
                Outra questão tão interessante quanto a que já foi abordada, é possibilidade real,  de escolas inovadoras que foram exemplificadas no vídeo Carambola: o Brincar está na escola. Adorei o que assisti. Vi que é possível trabalhar de uma forma diferente. As experiências de aprender brincando vem de encontro com que eu sempre acreditei, mas sufoquei por anos de aulas massantes, conservadoras e sem estímulo nenhum. Recordei o início do meu curso: era cheia de ideias, fomentadas pelas aulas de magistério. Lembro que meus planejamentos eram recheados de brincadeiras, jogos e descontração.  Os conteúdos eram trabalhados, mas ludicamente.
                 O Projeto Carambola mostra crianças de todas as idades e de turmas interagindo, aprendendo com alegria. As professoras demonstram prazer em ensinar, estão envolvidas na aprendizagem dos alunos. Na escola, as crianças devem encontrar oportunidades para desenvolverem habilidades sociais, críticas e de autonomia. E é o educador que deve auxiliar seu aluno a aumentar sua capacidade de aprendizado, mantendo-o motivado. Utilizar as brincadeiras como ferramentas pode ser uma ótima ideia. As crianças não têm medo de errar, ou explorar possibilidades, aceitam melhor o seu erro e aprendem com ele durante as brincadeiras.
                  Certamente é muito difícil, com a realidade que temos nas escolas, introduzir um projeto tão inovador, onde as crianças tem voz ativa, espaço para decidir como vão realizar as tarefas escolares. Dito deste jeito, parece que não há interferência do educador, pelo contrário, ele está desenvolvendo a autonomia, o poder de escolhas com responsabilidade dos alunos. Os projetos político pedagógicos das escolas falam sobre auxiliar o aluno a tornar-se um cidadão crítico e participativo. Na prática, o que acontece é uma enxurrada de conteúdos. As crianças são preparadas para resolver cálculos, desafios matemáticos, ler e escrever textos. Desenvolvem a ortografia, caligrafia, um pouco do raciocínio lógico, respondem  as perguntas de acordo com o texto, literalmente, mas não compreendem  o seu significado e quando pedimos que deem sua opinião, respondem com  monossílabos. Esse alunos  decoram as matérias, realizam as atividades, respondem o que lhes é questionado. Não são o resultado da escola que eu acredito.

                 Quero que meus alunos aprendam a questionar, criticar, se expressar através da oralidade e da escrita. Quero que sejam capazes de resolver as questões do dia a dia com autonomia. E se brincar auxilia nesta aprendizagem, porque não utilizar esta ferramenta? Brincar é essencial, desenvolve a criatividade, o senso crítico, a ideia de compartilhar, de aceitar as diferenças, de  ser responsável por suas escolhas. Brincar é sinônimo de aprender. Se o objetivo do educador, seja ele da rede particular, estadual ou municipal, é ensinar, então está na hora  de colocar as brincadeiras dentro das salas de aula e aprender com os alunos, que brincar é coisa séria. Este é meu novo projeto para o ano letivo de 2016.

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